segunda-feira, 3 de março de 2014

O Corvo

"Café... Café." - As palavras que pronunciava eram quase inaudíveis.
Um motorista alcoolizado levou embora o único homem que conseguiu amar. O homem a quem prometeu gerar uma nova vida em seu ventre, mas a promessa se foi junto com ele.

"Café... Café." - Seus lábios mal se distanciavam ao pronunciar o nome do seu vício.
Há quem diga que ela ficou louca depois de perder o amor da sua vida. E que o sabor daquele precioso líquido lhe permitia trazer de volta cada boa lembrança que tiveram juntos.

"Café..." - Dessa vez uma visita inesperada interrompe seus pensamentos. Suas asas negras fazem sua xícara oscilar por um instante, e seus olhos a fitam de uma forma estranhamente familiar.

"... Café." - Ela ouve o corvo dizer abruptamente, dando continuidade à sua loucura.
Um meio sorriso sem forças é esboçado em seu rosto. As lembranças de toda uma vida enchem seus olhos, e uma lágrima cai com o mesmo peso do seu braço.

"Sim, meu amor. Estou indo." - Sua mão, já sem vida, deixa cair o pequeno pote que continha as drogas que minutos atras tinha diluído no seu café. Seu corpo, frio como a noite, era beijado pela brisa e deixado para trás na sacada do seu apartamento.

"Café... Café." - Disse o corvo ao se aproximar da xícara. Mas dessa vez ninguém o ouviu.


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