sexta-feira, 14 de março de 2014

A morte é só o começo...


Eu estava ali, gelada, deitada naquela cama vazia rodeada de flores. Estranho é que enquanto viva nunca ganhei uma rosa se quer. Vendo tudo aquilo me deu vontade de vomitar. Senti o calor das pessoas, senti a lágrima salgada no rosto da minha mãe. Eu queria tanto poder abraça-la e dizer que eu estou bem, dizer que sempre irei protege-la e ficarei sempre por perto sentindo seu cheiro doce. Eu nunca vi lugar mais imundo do que ali, fedia a desespero. Posso sentir o sorriso contido naqueles rostos. O que mais me pergunto é: Por que eu ainda estou aqui? Por que preciso ver toda essa sujeira? Eu já morri, me libertei, sai do verdadeiro inferno que é viver neste mundo. Talvez eu deva pagar por tudo que fiz. Não era de fato verdade que, o que se faz na Terra se paga na Terra? Meu Deus, nunca me vi tão bem, tão pura. Sem dor, sem ódio, só a paz de saber que posso ser livre. O que me incomoda é a escuridão que me aguarda, o medo do abismo em que será preciso eu entrar e das coisas que ali eu possa encontrar. Mas depois eu vou em fim poder viver. Vida, que palavra estranha agora, distante de tudo que sinto, distante de tudo que quero. Quero poder guardar essa luz que arde em mim, para sempre. Quero poder ser livre de fato, poder perdoar e me libertar dos males que aqui habitam. Mas já é tarde, ouço aquele barulho conhecido, sinto aquele cheiro familiar. Abro meus olhos e começo a chorar, sabendo que ainda estou presa aqui, e me perguntando quando poderei ser livre.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Nosso primeiro Café



Era como se o meu mundo estivesse ali, diante de mim com uma xícara de café nas mãos. Me olhando tão profundamente que eu parecia estar nua diante dele, aquele sorriso fazia de mim uma criança feliz. E nada do que me viesse à cabeça parecia melhor do que aquele instante. Todos esses anos e eu ali, sem nunca ter notado que a felicidade estava a um quarto de distancia, meu Deus como o mundo é confuso. Por que aquelas mãos que sempre estiveram tão próximas de mim agora tremiam ao me tocar? Por que aquela voz tão suave e simples agora não saía da minha cabeça?  Minha alma era dele, cada centímetro do meu corpo era inteiramente seu. Eu podia sentir cada segundo de felicidade que a partir dali estaríamos destinados a viver juntos. Eu seria qualquer coisa pra ele, e faria qualquer coisa pra que aquele instante jamais desaparecesse de nós. E naquele momento eu entendi que, não importa o que você faça, não importa quantas lágrimas você derrame ou quantos corações você machuque. Quando o amor te tocar, você não será capaz de fazer mais nada além de agradecer. Agradecer por cada sofrimento, por cada aprendizado, por cada pedra no caminho que te levou até ali. Que me levaram até aquele café, o café mais doce e mais saboroso do mundo. O café que fez minha vida começar a fazer sentido, que fez o meu coração enfim começar a bater.

Amor não se usa conforme a estação do ano



Qual o valor de um sorriso sincero? Qual é o preço que se paga por ter amor? Quanto custa um abraço? Porque tanta gente lutando pelo que não se pode ter, e ninguém dando valor pro que realmente importa? Custa muito caro ter amor verdadeiro hoje em dia. Somos movidos a aparências, a quantidade e não mais à qualidade. Mas o que ninguém mais lembra, é que quando a maquiagem sair, a roupa ficar velha, e as portas se fecharem, ninguém mais irá sobrar. E a unica coisa que você vai precisar, dinheiro não vai poder comprar. Solidariedade não se encontra nas prateleiras, dignidade não se vende em lojas de marca, amor não se usa conforme a estação do ano. E aí, vai ser tarde demais pra pedir um conselho, pra querer um ombro amigo, pra se ter um colo de mãe. A verdade é que a gente nunca acha que vai ser tarde, a gente nunca percebe que passou da hora, a gente só vê que perdeu quando olha pra trás, e tudo que vê são coisas materiais, e nenhum sentimento, nenhum amigo. Nada além da pobreza que o dinheiro trás consigo.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Obrigado

"Sei que esse meu lado mais formal e sentimental não agrada a maioria de vocês. Mas eu gostaria que prestassem atenção em cada palavra que eu escrever, sem julgar e sem comentar. Sem dizer uma palavra.

Por tempo demais eu tenho sido uma pessoa fria, depressiva e infeliz... por mais que eu tentasse esconder isso de vocês com piadas e sorrisos. Posso não ter passado pelas piores desgraças que a vida pode proporcionar a uma pessoa, mas eu sofri... e vocês me carregaram por muito tempo, até mesmo sem perceber. E eu agradeço cada um de vocês por isso. Cada um de vocês, meus amigos... minha família.
Agradeço por cada café. Cada piada sem graça que nos fez rir alto até perder o fôlego. Cada madrugada compartilhada na mesma sala ou através da tela de um monitor, e por ver o sol nascer na beira da praia. Agradeço por cada música e cada dança que compartilharam comigo. As cervejas e as ressacas. As festas, os filmes, as jogatinas, as mudanças e as correrias.
Todos nós somos moldados pelas nossas amizades, mas raramente paramos para agradecer cada uma delas. E por mais idiota que pareça, sempre deixamos os agradecimentos mais significativos para as despedidas... temporárias ou eternas. Nós sempre dizemos "Você sempre foi uma ótima pessoa pra mim." quando ela já não pode nos ouvir. Mas eu quero agradecer agora. Não em uma despedida, num adeus ou numa data propícia... não quando seja tarde demais.

Quero que entendam o quanto sou grato por cada pedaço que me deram de suas vidas... Por cada pequeno detalhe que hoje faz parte da minha.

Então, por favor, aceite meu obrigado. Continue andando ao meu lado. E não diga uma palavra."


segunda-feira, 3 de março de 2014

O Corvo

"Café... Café." - As palavras que pronunciava eram quase inaudíveis.
Um motorista alcoolizado levou embora o único homem que conseguiu amar. O homem a quem prometeu gerar uma nova vida em seu ventre, mas a promessa se foi junto com ele.

"Café... Café." - Seus lábios mal se distanciavam ao pronunciar o nome do seu vício.
Há quem diga que ela ficou louca depois de perder o amor da sua vida. E que o sabor daquele precioso líquido lhe permitia trazer de volta cada boa lembrança que tiveram juntos.

"Café..." - Dessa vez uma visita inesperada interrompe seus pensamentos. Suas asas negras fazem sua xícara oscilar por um instante, e seus olhos a fitam de uma forma estranhamente familiar.

"... Café." - Ela ouve o corvo dizer abruptamente, dando continuidade à sua loucura.
Um meio sorriso sem forças é esboçado em seu rosto. As lembranças de toda uma vida enchem seus olhos, e uma lágrima cai com o mesmo peso do seu braço.

"Sim, meu amor. Estou indo." - Sua mão, já sem vida, deixa cair o pequeno pote que continha as drogas que minutos atras tinha diluído no seu café. Seu corpo, frio como a noite, era beijado pela brisa e deixado para trás na sacada do seu apartamento.

"Café... Café." - Disse o corvo ao se aproximar da xícara. Mas dessa vez ninguém o ouviu.